domingo, 31 de agosto de 2008

Soneto


CEGUEIRA BENDITA
Florbela Espanca

Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!

Não vejo nada, tudo é morto e vago...
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
Stendendo as asas brancas cor do sonho...

Ter dentro d'alma a luz de todo o mundo
E não ter nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!...

E chamam-nos a nós iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!

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