domingo, 30 de novembro de 2008

JÓIA DE BANDEIRA


VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado
Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção
Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der

Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

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