sábado, 1 de novembro de 2008

PESSOA, SEMPRE PESSOA


SÚBITA MÃO DE ALGUM
FANTASMA OCULTO
Fernando Pessoa

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem maneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão noturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra
E em nada existo como a treva fria.

Nenhum comentário: